Dia Nacional do Surdo: por uma educação que una a todos
Há 163 anos, em 1857, o conde francês Édouard Huet fundou no Rio de Janeiro a primeira escola para surdos do Brasil, que atualmente é o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), instituição dedicada ao ensino bilíngue. O conde (surdo) se tornou professor da escola e, ao ensinar os sinais da língua francesa aos alunos que já possuíam sinais para se comunicar, influenciou o desenvolvimento de uma nova língua, a Libras (Língua Brasileira de Sinais) como conhecemos hoje.
Para homenagear esse primeiro ato de inclusão, o dia 26 de setembro foi escolhido pelos surdos para comemorar as conquistas e relembrar a luta pelos direitos que existem apenas no papel. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 10 milhões de brasileiros são surdos (5% da população), desses 2,7 milhões dos cidadãos possuem surdez profunda e são os que mais têm limitações. Afinal, como fica o direito de ir e vir, a independência, se na maioria dos locais não há pessoas que falam a mesma língua que você? É quando as barreiras começam a surgir.
Por esse motivo, as lutas se baseiam em um só pedido: a educação dos surdos e a criação de escolas bilíngues para o ensino da Língua Brasileira de Sinais, assim como garante a Lei nº 10.436 de 2002 que apoia o uso e difusão da língua. Também como propõe o artigo 5 do decreto nº 5.626 de 2005 que inseriu a aprendizagem da Libras na graduação dos pedagogos e professores da educação infantil, viabilizando a formação bilíngue.
Com as crianças aprendendo Libras na educação básica, ela será disseminada e não haverá mais o receio de estar em um local onde não há nenhum intérprete da 2° língua oficial do Brasil. É para alcançar esse objetivo que as comunidades surdas lutam.
Essas comunidades englobam os surdos (aqueles que têm perda auditiva e se comunicam através da Libras) e deficientes auditivos - que têm perda bilateral, parcial ou total da audição, que conseguem se comunicar através do português mas escolhem utilizar a Língua Brasileira de Sinais, ou que utilizam apenas ela. Também incluem parentes e amigos que compartilham a língua, e quem a estudou por escolha - como professores e intérpretes, por isso o termo ‘comunidades’ no plural, pois apesar das diferenças de condições, todos compartilham a cultura surda estando associados por um objetivo comum.
Na área da saúde, a lei garante que os portadores de deficiência auditiva tenham atendimento e tratamento adequados, destacando a importância do conhecimento da Libras por agentes da saúde e o quanto ela aumenta a humanização da relação entre médico e paciente. O Sorriso de Plantão compreende o quanto essa união entre os surdos e ouvintes é importante e pode criar laços e memórias essenciais para o desenvolvimento pessoal e profissional.
Conhecendo os dois lados da história, podemos relatar o quanto esse convívio pode ser enriquecedor. Foi isto o que mais marcou o ex-integrante surdo André Antônio, irmão gêmeo do Dr. Cordeirinho: a convivência com as pessoas e o contato, como ele relembrou, além, é claro, das brincadeiras com as crianças. Vivências que o ajudaram a se sentir mais preparado para cuidar dos portadores de deficiência auditiva e dos ouvintes, aumentando também a união e, por consequência, diminuindo o preconceito aos PCDs (pessoas com deficiência) a partir da infância dando às crianças a oportunidade de conhecê-lo.
André Antônio, estudante de letras Libras na Ufal, despertou uma nova percepção dos membros do projeto de extensão, como relata a coordenadora Maria Rosa: “André superou todas as expectativas de forma positiva. Interagia com o grupo, com as crianças e participava de toda reunião e eventos extras. Ele se destacou por ser palhaço e nunca por sua deficiência”.
Neste ano de 2020, no qual as diferenças parecem estar distanciando as pessoas, nós do Sorriso de Plantão desejamos que essa data seja para recordar as lutas, assim como a cor azul turquesa que significava inicialmente a opressão dos deficientes pelos nazistas e hoje representa o orgulho das comunidades surdas. Desejamos, sobretudo, que vivenciemos um tempo em que 26 de setembro seja apenas um dia de celebrar as conquistas e o respeito.