Um plantão musical: o poder da música para expressar emoções

Um plantão musical: o poder da música para expressar emoções
O relato revela um ambiente hospitalar que se torna mágico graças a uma família que se veste de forma atípica e causa grandes impactos na vida de todos
Por: Nathália Louise, Kelwin Odilon

Para amenizar as saudades, assim como dar um gostinho do nosso livro que será lançado em breve, “Resenha do Riso”, o qual conta um pouco das vivências dos nossos palhaços doutores nos plantões, hoje, vamos dividir um relato muito interessante. Intitulado “Um plantão musical: o poder da música para expressar emoções”, o relato do irmão gêmeo Kelwin Barros, ao contar da paixão do Dr. Remexe, revela um ambiente hospitalar que se torna mágico graças a uma família que se veste de forma atípica e causa grandes impactos na vida de todos ao redor. Um tanto quanto inesperado, né? Confira completo a seguir:


“O Dr. Remexe sempre foi um amante da música e da dança, em qualquer lugar que tivesse uma “zuadinha” ele estava lá, dançando e cantando. Alguns de seus irmãos costumavam contar de como era mágico dar plantão no Hospital Universitário: era como se estivesse em um musical, dentre brincadeiras e jogos, sempre havia alguém cantando; E, isso fazia com que sua cabeça se enchesse de imaginações.


Durante as férias, ele decidiu visitar esse hospital e sentir a famosa magia pessoalmente. Ansioso como sempre, Remexe chegou bem cedo e ficou à espera de seus irmãos para lhe fazer companhia. Aos poucos, eles chegaram e foram conversando sobre o quanto ele iria gostar e quão lindo era “plantonear” lá. Sua ansiedade só aumentou. 


Os plantões no HU são divididos em dois momentos no setor oncológico, ficando a primeira parte do tempo com os adultos e o restante com as crianças. Ao falarmos de terapia do riso ou musicoterapia, é comum sermos associados apenas às crianças hospitalizadas, porém, contrariando o senso comum, lá nós interagimos também com pacientes da terceira idade e, em muitos casos, são eles que mais precisam desse cuidado. 


Cantarolando, enquanto caminhávamos pelos corredores e elevadores, o Plantão do Sorriso foi iniciado. Arrancamos sorrisos de quem estava presente, afinal, não tem como não se alegrar com aqueles em que suas aparências estão fora do padrão hospitalar: roupas coloridas, jalecos enfeitados e seus belos narizes vermelhos.


Ao chegar ao setor oncológico e entrar na primeira enfermaria, os pacientes estavam em silêncio e quietos nos seus leitos. À medida que fomos nos apresentando e explicando de o porquê estarmos ali, alguns soltaram pequenos sorrisos; estavam tímidos, mas isso não os impediu de conversarem com a gente. Entre boas conversas e risadas, antes de sairmos para as outras enfermarias, pedimos para que escolhessem uma música para cantarmos e alegrar mais aquela tarde de sábado. 


O momento em que iniciamos a cantoria foi justamente quando os pacientes presentes começaram a se encantar ainda mais com a nossa presença, deixando a dor e a tristeza de lado, para que entrasse os sentimentos felizes. Foi a partir daí que o Remexe passou a sentir a magia que aquele hospital possuía, graças à terapia por meio da música.


A musicoterapia tem a finalidade de estabelecer uma melhor vivência entre o paciente com o hospital e os profissionais de saúde, criando um ambiente mais humanizado e menos estressante. Ela proporciona conforto, relaxamento físico e até o aumento da capacidade de enfrentar o tratamento (Leia Brito et al., 2009).


Ao visitarmos as outras enfermarias com os adultos, o tempo chegou a passar muito rápido. Mesmo assim, conseguimos rir e conversar bastante com os pacientes sobre as nossas vidas. Entre algumas conversas, ouvimos depoimentos do quão difícil era estar internado, porque eles sentiam falta de suas casas, familiares e sua antiga rotina.


Saber ouvir é uma das características de Remexe e de seus irmãos que deve ser destacada. Sabemos que um bom ouvinte não é aquele que apenas senta e ouve em silêncio, mas sim o que interage durante as conversas ao ponto de se adquirir novas informações e reflexões sobre os desabafos dos pacientes; pois é uma forma deles tirarem um pouco aqueles sentimentos pesados e ruins, sentirem mais leves e bem consigo mesmo. (Zenger, Folkman, 2019, p.35.)


Durante as conversas e os cantos, muitos dos pacientes começam a chorar. Seja pela letra das canções que os tocam de alguma forma ou até mesmo por alguma lembrança em particular, já que a maioria das músicas escolhidas é religiosa, o que torna o ambiente mais emotivo por falarem sobre fé e não desistir de suas batalhas.


 Eles costumam relatar o quão tensos e para baixo estavam antes de nossa presença e o quanto nossa companhia por mais rápida que tenha sido os afetaram de uma forma extremamente positiva, trazendo justamente o que eles mais estavam precisando: alguns sorrisos e abraços. É em momentos como esses que tentamos nos segurar para não chorar na frente deles, o que, às vezes, não conseguimos.


Após termos iniciado o plantão com uma mistura de lágrimas e sorrisos, era hora de visitarmos as crianças por meio do nosso belíssimo trem e, assim, o Remexe ficou ainda mais animado para conhecer o restante do hospital. Algumas de suas irmãs o fizeram companhia para apresentar as enfermarias e as crianças, pois alguns rostinhos dali elas já conheciam. 
Remexe foi passando de leito em leito se apresentando e conversando com as crianças e acompanhantes, porém, uma enfermaria o chamou a atenção. Ele ouviu de longe o som do violão e foi logo atrás descobrir de onde vinha: era a enfermaria onde estava as suas irmãs Dra. Colibri e Dra. Fibi; Fibi sempre foi afinadíssima no violão e o seu repertório ia do sertanejo ao MPB, enquanto a Colibri tem uma energia e um sorriso encantador, que só ao olhar para alguém ela consegue arrancar vários sorrisos facilmente. 


Algumas crianças daquela enfermaria tinham ido para a brinquedoteca com os nossos outros irmãos, as únicas que crianças que ficaram foram a bebê Cidinha, que era simplesmente encantadora, e o Kauã, um garoto super fã do Mano Walter. Remexe com suas irmãs ficaram conversando sobre amizades, escola, cotidiano. Foi nesse instante que Dra. Fibi decidiu começar a cantar e perguntou a preferência do Kauã.


Após a chegada da Dra. Océane, Fibi sugeriu cantar ‘Trem Bala’ da Ana Vilela e Kauã aprovou. Durante essa música, o coração do Remexe se encheu de emoções, ele passou a sentir uma sensação que não sabia explicar, apenas sabia que era algo bom e, a partir daí, decidiu registrar aquele momento.


Através dessas fotos que ele tirou, passou a enxergar aquele momento de outra maneira: como aquilo que ele e seus irmãos fazem, por mais simples que seja, é algo belo e muito marcante para aquelas crianças e todos ao redor. 


Ao final do plantão, Remexe e seus irmãos se despediram de todos ali e partiram em seu trem para casa. São plantões assim, que nos faz sentirmos gratos pelo projeto, que percebemos como atitudes simples pode mudar a vida de alguém e que nos momentos difíceis, não podemos jamais deixar de sorrir.


Quando falamos que o Sorriso de Plantão é uma família, levamos isso a sério. Ele é um projeto que te abraça e te acolhe muito bem, se um dia você precisar se afastar, sabe que todos sempre estarão ali para quando precisar. Adquirindo aprendizado desde as dinâmicas e capacitações até os plantões, o Sorriso muda sua forma de pensar, agir e enxergar os outros e suas necessidades, te torna mais humano tanto fora quanto dentro do ambiente hospitalar, bem como, te tornar melhor não só em sua vida acadêmica, mas também a vida profissional”.

 

Referências do relato: 
AMARAL, A.X.G et al. REAÇÕES EMOCIONAIS DO MÉDICO RESIDENTE FRENTE AO PACIENTE EM CUIDADOS PALIATIVOS. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p. 61-87, jun. 2008.
BERGOLD, Leila Brito et al. A UTILIZAÇÃO DA MÚSICA NA HUMANIZAÇÃO DO AMBIENTE HOSPITALAR: INTERFACES DA MUSICOTERAPIA E ENFERMAGEM. Rev Brasileira de Musicoterapia, [s. l.], p. 2-12, 2009.
CASTRO, Elizabeth de Carvalho; PERUCH, Cecília; FERREIRA, N.F.M. DOUTORES PALHAÇOS EM AMBIENTE HOSPITALAR: O USO DO RISO COMO INSTRUMENTO TERAPÊUTICO. UFSC, [s. l.], 23 jun. 2014
SILVA, Guilherme Henrique; PIOVESAN, Juliane Cláudia. MÚSICA NO AMBIENTE HOSPITALAR: UMA POSSIBILIDADE DE PROPORCIONAR ALEGRIA E LUDICIDADE NA INTERNAÇÃO. Revista Eletrônica de Extensão da URI, [S. l.], v. 14, p. 204-219. 2018.
ZENGER, Jack; FOLKMAN, Joseph. O que os bons ouvintes realmente fazem. In: REVIEW, Harvard Business. EMPATIA: Coleção inteligência emocional. 1. ed. [S. l.: s. n.], 2019. cap. 3, p. 35. ISBN 9788543108544.