Relatos de um Palhaço: Drª. Pernalonga

Relatos de um Palhaço: Drª. Pernalonga
Drª. Pernalonga é integrante do projeto à 3 anos e atualmente faz parte da Equipe Santa Casa!

Olá gente! Tudo bem com vocês?!

Então, estamos planejando começar a postar aqui relatos de experiências que alguns Palhaços Doutores têm durante os plantões. 

Como sempre falamos, participar do Sorriso de Plantão é sempre uma nova experiência que nos enche de alegria e emoção, e hoje queremos compartilhar com vocês um pouco do que a Drª. Pernalonga sente durante os plantões. Fique agora com esse relato mais que lindo.

 

     "Gente, preciso falar com vocês de uma das minhas maiores emoções (Sim, teve várias, mas essa foi ainda mais especial).

 

     Tem um paciente na Santa Casa chamado M. de 7 anos que está internado a aproximadamente 5 meses. Lembro-me muito bem da primeira vez em que nos encontramos... Nos primeiros minutos teve o estranhamento, o medo pelo desconhecido (no caso eu), mas logo depois ele estava rindo, ainda tímido e sem verbalizar, mas usando o corpo para sinalizar suas emoções (tive certeza nesse dia que nosso corpo fala que é uma beleza).

 

     No nosso primeiro contato, não sei como, mas senti uma química e mesmo ele não podendo me ver, devido à neoplasia no encéfalo que já havia comprometido a visão, me parece que da parte dele também... não consigo explicar, mas existiu uma forte ligação! Fui embora daquele plantão pensando no M. e ansiosa para vê-lo novamente, confesso. Eu sei que o ideal seria não vê-lo mais, pois significaria que ele estava muito bem, mas eu queria vê-lo novamente.

 

     No plantão seguinte reencontrei M., mas para minha surpresa, ele estava ainda mais debilitado. Foi um choque!! M. agora se encontrava deitado no leito e não mais sentado como da outra vez, mas agora ele também usava alguns aparelhos para ajudar na sua alimentação. Sim, a doença se agravou e ele agora precisava da sonda para se alimentar. Continuei agindo da mesma forma com ele, apesar do aperto no coração. Ele continuava sem verbalizar, só que agora não mexia mais o corpo. Apenas ouvia. Fiquei o plantão acariciando sua cabeça, conversando, cantando e colocando algumas músicas no celular pra ele ouvir (músicas que ele gostava, pois a mãe disse o gosto musical dele). Enfim, chegou a hora da nossa partida e fui conversar com ele, dizendo que estava indo embora. Gente, senti outra emoção... M. chorou. Chorou muito! Nossa, como esse choro mexeu comigo, de tal forma que me retirei do quarto para chorar também.

 

     Nos plantões seguintes, M. teve que ficar no isolamento e, ainda sim, os palhaços doutores visitavam o quarto dele (claro, utilizando todos os equipamentos de proteção individual- EPI). No entanto, não havia o contato corpo a corpo. Apenas cantávamos e conversávamos. Confesso que, às vezes, achava que ele não estava me escutando, mas isso não me impedia de continuar cantando. Como diz o velho ditado “A esperança é a última que morre”, mas eu completo dizendo que ELA NUNCA MORRE!

 

     Como disse no início, esse último plantão foi muito especial... Como sempre, fui visitar o quarto do M.. Porém, dessa vez, havia uma médica que estava do lado dele, conversando e segurando em sua mão. Ela me disse que, alguns dias atrás, ele havia apertado a sua mão e que foi muito emocionante. Aproveitando a presença da doutora, comecei a conversar com ele como já era de costume e ele começou a reagir, sutilmente. Ela percebeu e me autorizou a segurar a mão dele (utilizando os EPIs). Foi nesse momento que eu desabei!! Gente, ele segurava minha mão com tanta força que o braço chegava a tremer. Todos riam no quarto e, eu tentando conter as lágrimas. Foi emocionante, foi mágico, foi a melhor sensação do mundo!!!

 

     Conversei acariciando sua cabeça, cantei... O pai dele estava ao meu lado, igualmente emocionado. Achei que não viriam mais surpresas, até que eu e o pai percebemos um leve sorriso de canto de boca. Se eu estivesse sozinha, diria que era coisa da minha cabeça, mas o pai viu e me fez acreditar que eu não estava enganada. Ele realmente deu um sorriso. Discreto, mas sorriu. Percebi que todas as minhas visitas, muitas vezes sem resposta da parte dele, tinham resposta sim. Percebi, naquele momento, o sentido da vida. O sentido da minha vida. Eu estou no lugar certo, com as pessoas certas e, o que é melhor, fazendo a coisa certa!

 

     Tive que contar essa história para poder agradecer, principalmente, a coordenadora Maria Rosa, por ter me selecionado há três anos para compor a família Sorriso de Plantão e agradecer a todos os irmãos palhaços doutores, pois todas essas emoções foram compartilhadas com muito amor e companheirismo. Formamos uma linda família! Obrigada".

 

Drª. Pernalonga.

 



Sorriso de Plantão é isso minha gente: Um Sopro de Vida no Seu Coração heart