Relatos de um Palhaço: Drª. Miguelita
E hoje, chega até nós mais um "Relatos de um Palhaço", dessa vez com nossa irmã Drª. Miguelita, nos contando sobre uma árdua experiência em tentar conseguir um simples sorriso de uma criança. Quer saber como ela conseguiu essa façanha? Leia agora nesse lindo relato
A Brincadeira É Séria
Ser palhaço doutor é viver experiências fantásticas, onde você aprende que apesar do palhaço estar ali para levar sorrisos e alegria, nem sempre será uma tarefa fácil. Alegrar crianças hospitalizadas, que geralmente são submetidas a exames dolorosos e internações prolongadas é um desafio, quando ao nos colocar no lugar do outro, percebemos que a doença de fato nos deixa bastante oprimidos.
Dar plantões na Santa Casa é rever as mesmas crianças quase sempre, é apegar-se, é desejar que aquele pequeno se recupere e vá logo para sua casa. Quando a gente se torna palhaço doutor, acaba caindo em um pensamento de que “Ora, se estou com o rosto pintado, nariz vermelho, fazendo palhaçadas, cantando, dançando, provavelmente a criança em algum momento irá sorrir!”. Porém isso não é uma regra de fato, além do mais quando se trata de crianças que às vezes nem podem sair de seus leitos, por estarem fazendo quimioterapia ou algum outro tipo de procedimento, ou simplesmente cansadas, fisicamente e psicologicamente.
A paciente R. sempre foi muito séria! E ela apesar de sempre nos olhar, tentava demonstrar não gostar muito dos palhaços, mas sempre que nos afastávamos ela olhava, ela tentava ser difícil. Certo dia Drª. Miguelita passou aproximadamente 20 minutos tentando arrancar um sorriso que fosse de R., mas ela era firme na seriedade, e não estava nem aí, não queria brincar, apenas assistir televisão. O plantão chegou ao fim e Drª. Miguelita esperava por aquele sorriso e pensava, por que será que ela não sorri? Já tentei tantas coisas! E quando digo tantas coisas não é exagero.
No último plantão no dia 19/03/16, R. estava lá novamente, como sempre muito séria. E Drª. Miguelita esperou o momento certo de se aproximar dela em busca daquele sorriso, não seria a segunda tentativa, seria provavelmente a terceira ou quarta...
E quando foi chegado o momento, R. permanecia séria e Drª. Miguelita passa a pensar que, de repente devesse respeitar a paciente, ora, já havia tentado de tantas formas sem nenhuma resposta, R. é uma criança hospitalizada, ela tem motivos para não sentir desejo de alegrar-se, mesmo com tantos brinquedos e brincadeiras. Mas... sabe quando você não desiste de algo, por que você ainda pensa que vai dar certo? Foi exatamente assim. Drª. Miguelita fez mais uma tentativa de brincar com R. e ela finalmente aceitou! Sim! Ela aceitou e ela sorriu! E ali, Drª. Miguelita recebeu um dos sorrisos mais lindos e esperados que ela já viu naquele hospital. Não era um sorriso apenas com os lábios, mas também com os olhos, com o coração.
Ser palhaço, às vezes, é querer chorar de emoção em momentos assim. Foi como Drª. Miguelita se sentiu. É descobrir que o desafio de ser um palhaço doutor é muito maior do que se possa imaginar.
Drª. Miguelita
Sorriso De Plantão: Um Sentimento Que Não Pode Parar