Relatos de um Palhaço: Drª. Mima Baby II
Bom dia pessoal!
Hoje temos mais um "Relatos de um Palhaço", trazendo de volta a nossa irmã, Drª. Mima Baby, falando um pouquinho sobre um assunto que infelizmente tem nos assombrado com um pouco de frequência, que é a perda dos nossos pequeninos. Não é fácil, nunca iremos nos acostumar, mas vamos sempre dar o nosso melhor para que eles possam viver o máximo de felicidade que pudermos ofertar.
Fique agora com esse belo relato.
“A perda de lindos sorrisos”
Ao contrário do que muitos pensam não é preciso ser frio para vivenciar a realidade do setor de oncologia. A sensibilidade é, indiscutivelmente, essencial para se exercer qualquer que seja a função nesse setor, seja Médico, Enfermeiro, Psicólogo, Terapeuta Ocupacional, Fisioterapeuta, Tia da Limpeza, Tia da Comida ou até mesmo Palhaço Doutor. Ser sensível te faz mais humano, te faz ser empático e te faz sentir profundamente cada sentimento demostrado e vivido.
Mais uma vez, ao contrário do que todos pensam, a criança diagnosticada com câncer não é apenas uma criança quieta, abatida e sem ânimo. Elas nos surpreendem incrivelmente, elas pulam, elas dançam, elas riem, alguns dias mais, outros menos. É preciso ter sensibilidade pra saber a hora que ela está cansada e perguntar: “Quer descansar?”, “Quer que eu volte mais tarde?”. É preciso ter sensibilidade para notar o momento que a família quer ficar a sós com a criança e respeitar o momento deles, eles já estão fora do seu lar, com mil intervenções diárias, a presença de mais alguém naquele momento pode ser incômoda.
A morte é um fato, infelizmente, comum no setor de oncologia e mais uma vez a sensibilidade se torna essencial, mas não é por ser comum que se torna mais fácil. Pelo contrário, ela nos surpreende sempre e vários questionamentos surgem. A primeira vez que vivenciei essa realidade ainda nem fazia parte da família sorriso de plantão, tinha feito apenas uma visita e uma linda menina me encantou. Soube através do Dr. Minion que D. tinha ido iluminar outro lugar e aquilo me doeu de uma forma que não existem palavras para explicar.
Me tornei Drª. Mima Baby e lembro como se fosse agora a primeira perda que tive. Dia das crianças, estávamos preparando a festinha quando uma enfermeira chegou e perguntou se já sabíamos o que havia acontecido com R. Meu coração congelou, as lágrimas tomaram conta de mim automaticamente, fiquei sem chão e me escondi por algum tempo nos corredores da própria Santa Casa. Ainda tenho uma foto de R. no meu quarto. E daí, a gente pensa: “Pronto, agora estou mais forte, irei me acostumar”. Puro engano! P. foi o responsável por provar isso, no último plantão que dei com ele, perguntei: “O que você quer ser quando crescer?”. E ele respondeu: “Médico”. Foi triste pensar que isso não seria possível e, inacreditavelmente, me doeu novamente.
Mais recentemente, conheci L. um adolescente incrível e inteligente. Não brincamos, apenas conversamos algumas vezes, mas isso foi o suficiente para perceber o quanto ele era (triste escrever isso no passado) inesquecível. Também guardo uma foto nossa com muito carinho.
A partida de E. foi a que me motivou a escrever o relato e a palestra de Drª. Alessandra foi o que me fez refletir sobre sensibilidade. Nosso querido E. estava conosco fazia muito tempo, entre idas e vindas, ele sempre alegrava nossos plantões. Já conhecia nossos jogos, nossos nomes e nossas características. Extremamente inteligente no jogo da memória sempre fazia questão de nos humilhar no 7x1. Sabe de uma coisa? Aquele jogo da memória da Frozen nunca mais vai ser o mesmo sem você ali conosco para jogar.
Sinto falta de cada um de vocês e prefiro pensar que vocês estão alegrando outras dimensões por aí, iluminando novos caminhos e cuidando dos que ainda estão por aqui. O tempo passa, os plantões continuam e a tristeza que sinto por cada sorriso que viaja para iluminar outro lugar é convertido em energia para iluminar os que estão ao meu alcance e que vão vencer essa batalha. Seja sempre sensível!
Drª. Mima Baby
Sorriso de Plantão: Um Sentimento Que Não Pode Parar