Relatos de um Palhaço: Dr.ª Jubilosa
Boa noite gente!
O nosso "Relatos de um Palhaço" de hoje fica por conta da nossa irmã, Dr.ª Jubilosa, que vem nos contar sobre uma criança escondida, que vive em um lugar bem inusitado, onde talvez você nem se lembre mais. E ainda nos deixar a pergunta: "Quando "nasce" um Palhaço (a) Doutor (a), o que nasce na vida de seu/sua irmão (ã) gêmeo (a)?".
Ficou curioso pra saber o resto dessa história? Pois vem logo ler, porque está muuuuito lindaa.
Aproveitem mais esse belo relato!
"Uma Criança Escondida"
Pensando na simplicidade da vida, vejo o quanto o nascimento é algo único e significativo , seja uma semente que é lançada em um terreno fértil e vai germinando sobre diversas camadas do solo, seja o nascer do sol com todo seu esplendor e glória nos dando a notícia de que mais um dia se inicia e com ele mais uma chance, seja a casquinha do ovo que se rompe originando uma vida, seja o amor, seja um bebê que com seu choro anuncia sua chegada a esse mundo... Tirando eu, que nasci sorrindo, mas, isso é assunto para outra história!
Sem dúvidas, o nascimento de uma vida é algo fantástico e lindo de se ver, e contemplando especificamente um dos eventos mais lindos e surpreendentes da natureza que é uma nova vida humana, uma frase me chama a atenção, onde dizem: ‘’Quando nasce um bebê, nasce uma mãe também’’.
Mas, e quando ‘’nasce ‘’ um (a) Palhaço (a) Doutor (a), o que nasce na vida de seu/sua irmão (a) gêmeo (a)?
Desde o dia 27/05/2017, as tardes de sábado têm tido um significado especial, pois passei a embarcar no trem mais amorzinho junto com meus irmãos e cada plantão tem proporcionado a mim e a minha irmã gêmea momentos inesquecíveis e únicos.
Eu podia sentir o frio na barriga que minha irmã gêmea sentia e senti meu coração vibrar quando seu rosto passou a ser preenchido por aquele pozinho branco que eu amo assoprar fingindo que é fumaça, qual é o nome mesmo? Ah lembrei, é panqueca.... Ou seria pancake?
E quando ela colocou meu jalequinho e o meu nariz vermelho eu ‘’saí do papel’’ e ganhei vida. Na verdade, eu já existia, mas ela não tinha se dado conta tão seriamente disso.
A alegria do primeiro plantão é algo inexplicável para um palhaço doutor, mas todos os plantões, sem exceções, têm sido repletos de momentos emocionantes e significativos que faz com que eu queira compartilhar com vocês o quanto esse conjunto de vivências tem feito minha irmã gêmea amadurecer.
A começar por minha essência, onde a alegria e a esperança são renovadas a cada plantão me fazendo enxergar que eu não sou uma ‘’personagem’’ totalmente pronta, mas sou gerada e lapidada a cada paciente, cada novo rostinho que tenho o privilégio de conhecer, cada mamãe e papai, cada acompanhante, cada profissional ou até mesmo em momentos de interação com meus irmãos.
Não importa se chego um pouco cansada ao HU Amorzinho depois de ter passado uma manhã inteira correndo atrás de borboletas, se aquele dia está chuvoso ou se minha irmã gêmea teve uma semana difícil ou uma noite mal dormida... O efeito revigorante que a vontade de mudar o dia de alguém tem, era algo que minha irmã gêmea desconhecia e é algo inexplicável.
Quando conheço cada criança que é única, cada paciente adulto ou até mesmo cada acompanhante que marca com seu jeitinho especial e pede músicas populares como a famosa ‘’Não sei’’, ‘’A que vocês quiserem está bom’’, entre outras, quando escutamos um ‘’Obrigado por terem vindo’’, quando você brinca de esconde-esconde e se esconde nos lugares mais inusitados, quando dança muito forró com uma acompanhante mesmo que seja de forma desengonçada, que é minha especialidade (mas para vê-la feliz) ou até mesmo só ouvir um desabafo, estar ali de corpo, alma e coração, sem dizer uma única palavra... Tudo isso faz com que em nós ocorra um sopro de vida, aliviando a dureza daquela rotina, e nós, que chegamos lá para doar amor também recebemos tanto, não há palavras que possa descrever.
Mais uma vez eu volto a dizer que isso era algo que minha irmã gêmea desconhecia e é algo inexplicável.
Talvez você amiguinho (a) leitor (a), esteja se perguntando aonde eu quero chegar dizendo tudo isso. Quero dizer que talvez minha irmã gêmea em alguns momentos não seja o que sou enquanto palhaça doutora, mas eu a ensino muito, cada pessoa que passa por ela a ensina muito! Ela sempre sai muito pensativa depois de um dia de plantão, sua cachola sempre fica reflexiva.
Ela se redescobre enquanto ser humano, se reinventa e reconhece que eu sou nada mais nada menos do que traços de sua personalidade que muitas vezes são apagados e esquecidos...
Você se lembra de que eu perguntei no início, quando ‘’nasce ‘’ um (a) Palhaço (a) Doutor (a), o que nasce na vida de seu/sua irmão (a) gêmeo (a)?
Eu gostaria de dizer que muitas coisas nascem. Nasce uma humanidade que até então era esquecida ou pouco aflorada, nasce amor por pessoas, por histórias, nasce a vontade de ser um ser humano cada vez melhor, nasce a vontade de se doar ao outro cada vez mais, nasce tanta coisa.... Mas renasce também uma criança escondida que ele/ela esqueceu lá no fundo, no seu interior.
Eu sou uma criança que era esquecida no interior de minha irmã gêmea, e agora faço questão de voltar ensinando a ela que devemos ser ‘’Super-heróis’’, não necessariamente daqueles que vocês veem na televisão, mas esse tipo de Super-herói aqui:
‘’Quando você cuida de alguém que realmente está precisando, você vira um herói. Porque o arquétipo de herói é a pessoa que, se precisar enfrenta a escuridão e segue com amor e coragem porque acredita que algo pode ser mudado para melhor’’.
Patch Adams
Dr.ª Jubilosa
Sorriso de Plantão: Um Sopro de Vida no Seu Coração