Humanização: a importância de ressignificar o cuidado em saúde
Olá, pessoal! Neste domingo (9), trazemos relatos diferentes. No Dia da Humanização, dois dos integrantes contam como a participação no Sorriso de Plantão mudou sua visão em diferentes aspectos da vida. Vamos conferir?
Humanização: a importância de ressignificar o cuidado em saúde
Em tempos de relatos constantes de maus tratos por profissionais da saúde nas mais diversas especialidades e diferentes redes de saúde, a humanização surge como apontamento necessário para a discussão do cuidado que os trabalhadores de saúde têm para com outros seres humanos, os pacientes.
O pequeno gesto de cuidar do próximo, a preocupação para a inclusão de uma linguagem acessível para pacientes de baixa escolaridade ao passar uma receita e até o ato de ser tornar um ombro amigo para as pessoas que se encontram num leito hospitalar, mostram que atitudes simplórias podem fazer grande diferença no cuidado em saúde. Tais ações, ainda que simples, demonstram a atenção que os profissionais têm com sua profissão e com o próximo.
O que deveria ser comum ao dia a dia no âmbito hospitalar, transforma-se um gesto grandioso quando divulgado, pois se tornou escasso.
Neste Dia da Humanização, 09 de junho, convidamos todos a refletir sobre as ações que exercem no dia a dia. Para isso, o Sorriso de Plantão trouxe o depoimento de dois integrantes da família que contarão como o projeto modificou suas vidas. Devemos, no entanto, entender que a humanização se estende para diferentes áreas de conhecimento e de atuação e, por conta disso, o projeto abraça estudantes de cursos diversos, não somente os da saúde.
Diogo Souza é um dos exemplos destes integrantes, ele é graduado em Letras e atualmente é doutorando. Em 2015, seu primeiro ano do doutorado, o foco de Souza se voltava a pesquisa teórica que estava desenvolvendo. Para ele, a participação no Sorriso de Plantão devolveu o olhar para a prática do trato com o ser humano.
"Em um momento que eu estava estudando so pesquisa teórica, o Sorriso acabou abrindo caminhos para que eu voltasse a pensar como é bom vermos que nossas intervenções ludoterapeuticas estavam surtindo efeitos naquele momento. Foi uma atividade muito enriquecedora do ponto de vista acadêmico porque eu pude ver, ali, a prática acontecendo", afirma.
Bem mais que no âmbito acadêmico, Diogo ressalta que o projeto foi responsável por modificar, ainda, sua visão profissional e incentivar sua entrada no curso de Pedagogia. "Me tornei um professor mais empático. Comecei a me colocar mais no lugar do outro. Como dou aula numa rede de ensino profissional, com um público bem diversificado, preciso ter um maior posicionamento no lugar do outro. Foi também uma motivação para concluir a Pedagogia porque um dos meus sonhos é implantar as classes hospitalares aqui em Alagoas. Se não fosse o Sorriso, eu não estaria cursando Pedagogia no momento", complementa.
O lado pessoal também sofreu alterações após integrar ao projeto. Sua sensibilidade foi aflorada, tanto consigo mesmo, quanto com o próximo. "O Sorriso me ensinou a valorizar a minha vida e os momentos simples do dia a dia. Gozo dos meus cinco sentidos normalmente e as vezes a gente não dá valor a isso. As vezes entramos em contato com uma criança que não tá podendo andar ou que ficou doente e não tá podendo ver, então começamos a ver o quanto esses problemas do dia a dia, causados na maioria das vezes pelo trabalho, são insignificantes e a gente vê que tem muitas outras pessoas passando por situações mais difíceis e lidando muito bem com isso. Lidar com a morte foi algo que o Sorriso também me ensinou", diz.
Ingressando em 2013, Débora Cerqueira, à época estudante de Terapia Ocupacional, completa seis anos de participação no projeto, sem planos para sair. Para o Dia da Humanização, Cerqueira preparou um texto sobre a temática, que pode ser lido na íntegra:
"Ao escrever as primeiras linhas desse texto, comecei a pensar no profundo significado da frase de Carl G. Jung que diz “... ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana”.
Nos dias atuais, essa frase é muito discutida no âmbito da saúde, mas pouco aplicada no cotidiano dos serviços assistenciais. A competência técnica e tecnológica, infelizmente, ainda se sobrepõe a competência ética e relacional. Lamentável não andarem juntas.
O na??o reconhecimento das subjetividades envolvidas nos serviços de saúde, caracterizados pela rigidez hierárquica, descaso pelos aspectos humanísticos e disciplina autoritária fizeram do hospital um lugar onde as pessoas sa??o tratadas como coisas e no qual prevalece o na??o respeito a?? sua autonomia e a falta de solidariedade.
A transformação humana torna-se um desafio diário. A figura do clown no ambiente hospitalar permite a valorizaça??o da subjetividade numa realidade onde há grande presença do impessoal nas relações. O palhaço doutor, com sua espontaneidade e disponibilidade para ouvir o próximo, reconhece a singularidade de cada ser que encontra pelo caminho, tornando-se uma via de acesso que permite aos pacientes exteriorizar seus medos, dores, angústias, alegrias e tristezas. E o melhor, se permite aprender com cada nova história de vida que embarca.
Será que os profissionais da saúde também se permitem embarcar nesse trem? Ou será que o saber puramente técnico os aprisionam em um cuidado frio, sem entrega e afetividade? Contento-me com a reflexão que paira no ar.
No Sorriso de Plantão aprendi a embarcar. Aprendi a olhar para mim mesma em um leito, sem esperança. Aprendi que o abraço também cura e que, por muitas vezes, não há remédio melhor. Aprendi a valorizar o intrínseco. Entendi que a alegria, na verdade, tem a ver com estar vivo. É na simplicidade da troca entre as pessoas que ela começa: o que eu tenho de melhor eu entrego para trazer à tona o melhor em você.
Hoje, no Dia da Humanização, desejo que o diálogo e o respeito mútuo sejam seus eternos aliados e que seu olhar acolhedor esteja sempre de plantão!"