Sorriso de Plantão promove alegria e ludicidade nos cuidados com a saúde infanto-juvenil
Criado por um grupo de estudantes de Medicina da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em 2002, o projeto de extensão universitária Sorriso de Plantão vem promovendo alegria e ludicidade nos cuidados com a saúde infanto-juvenil na capital de Alagoas. Em parceria com a Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), o projeto multidisciplinar atua em seis hospitais de Maceió: Hospital Universitário Prof. Alberto Antunes (HUPAA), Hospital Geral do Estado (HGE), Hospital Escola Hélvio Auto (HEHA), Hospital Santa Casa - Unidade Farol, Hospital da Criança e Hospital Metropolitano.
Caracterizados de palhaços de hospital, os integrantes iniciam seus plantões todos os sábados, pontualmente às 14h. Chegando de “trem” pelos corredores dos hospitais ao som de músicas infantis, despertam a curiosidade de crianças em saber quem são aqueles estranhos de nariz vermelho e jaleco colorido, acenando pela porta.
As atividades incluem música, jogos, desenhos ou simplesmente a escuta ativa dos pacientes. Apesar do ambiente em que estão presentes, os pequenos podem se divertir e, principalmente, realizar os estímulos cognitivos tão essenciais para o crescimento.
Ao longo de suas duas décadas de existência, o projeto já passou por sete hospitais e beneficiou inúmeros pacientes e acompanhantes. Como resultado, se tornou pioneiro no campo de Promoção à Saúde na Atenção Terciária em Alagoas. O projeto também está inserido na Rede Nacional de Palhaços de Hospital e integrou o grupo de pesquisa da Federação Europeia de Palhaços de Hospital (EFCHO).
“Como a integrante mais antiga, não tenho palavras para dizer o quão gratificante e lindo é poder ver o quanto esse projeto cresceu e evoluiu nesses anos, se tornando referência não só para o estado, como também para o país”, afirmou Maria Rosa, coordenadora do projeto.
Foguete de Leitura
Além das atividades desenvolvidas aos fins de semana, o projeto também se faz presente durante a semana através do Foguete de Leitura. Idealizado em 2016 com o objetivo de apresentar estímulos cognitivos em alas pediátricas, o primeiro hospital a receber a patente foi o Hospital Geral do Estado de Alagoas. Um foguete que surgiu da ideia de levar mais literatura para aqueles que, devido a suas patologias, foram afastados de seus estudos. A ideia foi proposta por Diogo Souza, ex-integrante do projeto e professor do Instituto Federal de Alagoas (Ifal).
“A iniciativa é uma forma de colocar as crianças hospitalizadas em contato com o universo da leitura. A ideia de leitura é como uma viagem, algo que forma e transforma o indivíduo leitor, está presente não somente na concepção do projeto, como também em sua visualidade, já que a biblioteca móvel pediátrica possui um formato de foguete”, destaca Diego Souza.
O projeto tem gerado resultados científicos, através da publicação de artigos; e-books como a Resenha do Riso, que conta diversas histórias vividas pelos palhaços de hospital, momentos marcantes e experiências enriquecedoras; e também apresentação de TCCs, a exemplo do trabalho de conclusão de curso publicado em março: “Dra. Pulinhos, acolhendo a si para acolher o outro”, da aluna de medicina Letícia Rodrigues, que também é líder do Hospital Escola Dr. Hélvio Auto, sendo a Dra. Pulinhos o nome de sua ‘irmã gêmea’, nome associado a personificação de palhaço.
Após a etapa de seleção, dividida em duas fases, os palhaços de hospital passam por dois finais de semana em processo de formação, para entender como as atividades funcionam na prática e também as situações que poderão lidar ao decorrer do ciclo, que possui duração de um ano. Aprender sobre a história do projeto é essencial, mas os aprovados também aprendem sobre a biossegurança na atuação do palhaço, o processo de luto e brincadeiras de acordo com faixa etária. Oficinas de ludicidade e musicalidade também são realizadas, além demais diretrizes, como direito autoral nos registros de imagens.
Projeto leva alegria à pacientes
Pacientes que passam longos períodos internados acabam criando um vínculo maior com os palhaços e, em alguns casos, essa relação é levada para fora do ambiente hospitalar. Esse foi o caso da pequena Rapunzel*, que quando chegou ao hospital era uma criança tímida e estava alguns meses sem conseguir ficar de pé, mas com o estímulo dos palhaços, conseguiu.
“Eu estava triste, sem conseguir levantar. Então, vocês chegaram me animando e consegui ficar de pé. Fiquei muito feliz e minha mãe se emocionou. Guardo vocês em um ‘potinho’ dentro do meu coração, porque vocês são muito especiais para mim”, disse a criança
Além dos relatos dos pacientes, os participantes do projeto também apontam transformações em suas rotinas. É o caso da Mylenna Raíssa, que ingressou em 2024 e se encanta ao chegar ao hospital.
“Ver que eles ficam animados e esperando a hora em que os palhaços chegam ao quarto para brincar aquece o coração, mas na despedida o sentimento é maior, sinto a sensação de dever cumprido pois é possível perceber que o tempo que passamos por lá deixa muitos sentimentos bons e sorrisos de felicidade. E claro, o quanto eles me tocaram também” - disse a estudante de Terapia Ocupacional
Ao longo de duas décadas, o Sorriso de Plantão transformou vidas, e continuará escrevendo linhas desse intermináveis capítulos de como um pequeno nariz vermelho pode fazer toda a diferença.
*nome fictício para preservar a identidade do paciente